sexta-feira, novembro 08, 2002

Há uma certa tristeza em aeroportos. Adoro — com uma intensidade que não se mensura — o barulho dos jatos. Adoro a possibilidade de estar um dia num lugar, outro dia no outro lado do mundo.

Queria ser piloto de avião. Nunca enxerguei bem para isso, e não, não posso fazer a cirurgia corretiva. Tenho ceratocone, que é um afunilamento da córnea, e isso impede qualquer intervenção.

Mas há um quê de triste nas pessoas chegando sozinhas no aeroporto com suas malas, estacionando os seus carros sozinhas, sem um abraço no portão de embarque.

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Não sei há realmente algo de tristonho no fato de se estar só num aeroporto. Zeba, na sua primeira de duas experiências no Rio nesta temporada, pode achar que nada é melhor que ficar só com os seus pensamentos num aeroporto.

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Talvez triste seja minha atual disposição. Lacrimejei pelos cantos da casa hoje o dia inteiro. Até em matéria sobre casamento coletivo eu chorei. Tá, o Alexandre Leal era o cara mais indicado para cobrir aquela pauta. NINGUÉM aqui na TV Bahia conseguiria dar o tom singelo que a matéria merecia. Só ele.

Principalmente pq era uma matéria sobre o sonho das pessoas. Seja o sonho que for, deve ser respeitado e tratado como cristal. Aprendi com a Lu, minha madrinha em TV, que não se desdenha dos sonhos dos outros. À primeira vista, uma matéria sobre casamentos populares e coletivos é para mostrar o ridículo. Pq ridículo é aquilo que não nos agrada. Nada mais que isso.

E pode não me agradar o modelo do vestido de uma, ou o noivo que a outra escolheu. Pode ser que na minha experiência não caiba aquele monte de babados, nem bordados, nem nada. Mas saber que foram 600 sonhos realizados é uma coisa que ultrapassa a razão. Foram 600 pessoas que levaram parentes, que passaram meses, anos sonhando com esse dia; que espremeram os bolsos pra fazer festas para comemorar, que têm esse dia como linha divisória.

Foram pessoas que acreditaram que era possível. Fosse qual fosse o sonho, era delas, e não interessa a ninguém a maneira que foi escolhida para realizar. A maneira como elas vão conduzir suas vidas a partir de agora é outro assunto. Casamento deve ser, antes de tudo, um eterno respeitar de individualidades.


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É, pq é muito comum ver alguém dizer que atura agora o que o parceiro faz, mas depois do casamento "ele vai ver se eu não o coloco no jeito..." Droga, então arruma alguém que já esteja no jeito! Arruma alguém que satisfaça aquela lista de pré-requisitos que todo mundo tem! A gente deve comprar o pacote completo, sabendo que não dá pra mexer pq não vem com "opcionais" de fábrica.

Eu nunca entendi o horror que se estampa no rosto do outro (e mulheres são campeãs nesse quesito...) quando vê-se a toalha molhada em cima da cama. Ou pq o tubo de creme dental está apertado no meio. Ou porque o papel higiênico roda para o lado que não se deve (e tem lado certo???). Casamento é mais que isso. É a cumplicidade, são os risos partilhados, são as noites em que um sonho ruim pode ser apagado só de encostar as costas nas costas do outro. É... casamento, pra mim, é muito, muito mais que uma toalha na cama (mesmo pq eu mesma faço isso, e deixo sempre a cozinha uma zona depois de uma crise de chef).

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Mas não era isso que eu ia dizer. Comecei a escrever pensando em como são tristes os aeroportos, como estive meio chorosa o dia inteiro, como isso continua... Escrevi esse post todo pensando em dois hiatos bons, uma doce conversa com o Homem MAIS QUE Querido, uma conversa rapidinha com uma amiga MUITO querida. Os dois papos pelo mesmo meio, longes, longes, longes.

Nada que uma ida ao aeroporto, um embarque, mesmo que solitário, não resolvesse.

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