domingo, janeiro 05, 2003

O vício por Sims continua, o que é uma boa coisa pra quem anda meio imprópria para o consumo humano. Acho que os meus amigos perceberam, e tenho sido esquecida com uma certa freqüência (e Zeba, se vc ainda lê isso aqui, não, não é geminianismo). Sem ressentimentos, entressafra de Daniela.

Leio, durmo, jogo e falo no telefone. Como alguma coisinha (YES!!! Estou me relacionando com a comida como uma pessoa normal!!), trafego pela casa, leio, durmo, jogo.

Sinto falta de quem eu sou quando estou em atividade. Um dos males de ser freelancer é esse: os contratantes tiram o couro num determinado período, a gente sonha com cama 24 horas por dia, encostar em qualquer lugar dá sono e almoçar é proibido — a produtividade cai pra perto de zero. Aí vem o final do evento/vídeo/show, e são dois dias dormindo e farreando indiscriminadamente. A partir daí é uma rotina terrível. Volto pra faculdade amanhã, mas mesmo assim não tenho porra nenhuma urgente para fazer. E eu AMO trabalhar sob pressão. Meus melhores textos foram feitos a toque de caixa, minhas soluções mais brilhantes vêm quando peço: " Você me dá 5 minutos?"

O resultado é que não consigo ter ânimo para nada: nem as atividades que eu tenho obrigação, nem as lúdicas. Não crio um roteiro, um conto, as crônicas que saem são essas que vcs lêem aqui...

O lado bom de ser freelancer é que as segundas-feiras são meus dias preferidos para a farra. Farra... humpf... Nada de música alta, nada de bebidas — uh... a segunda passada foi um deslize... —, nada de bares da moda. Outra coisa genial para quem não tem emprego fixo é que eu posso escolher o que vou fazer. Instituo feriados para mim, aceito trabalhos que pagam pouco — pq me apaixonei pelo projeto —, abro mão de trabalhos que pagam melhor — pq não tenho a menor simpatia pela equipe. Trabalho de graça se é por amor, cobro alto se não gosto do evento.

Cada trabalho envolve uma equipe diferente, equipe pela qual posso me apaixonar ou criar uma relação de ódio. Encontro diversas pessoas que já trabalharam comigo em outros eventos, conheço gente nova dia-a-dia, incremento o meu network. Ganho e perco amigos, ganho e perco namorados, conquisto respeito e admiração, faço rivais.

E me dou férias quando bem entendo. Carnaval, para mim, se for pago o meu peso em ouro — e acreditem: é coisa pra caramba! —, ou me deixarem trabalhar com a minha equipe preferida. Fora isso, estou zarpando para a minha Pasárgada. Pousar finalmente os olhos na minha irmã querida, no meu clown preferido, rodar sem destino, sentindo cheiro de concreto, fumaça e pastéis de feira. Voltar pra casa, e decidir o que é que eu vou fazer da minha vida daqui pra frente.

Posso ficar em Salvador, terminar a faculdade e trazer mais tarde à pauta o assunto "E agora?". Posso voltar pra casa de vez, transferir o curso pra lá, me virar pra pagar, continuar freelancer e fazer toneladas de cursos de edição, direção de fotografia... Posso ir pro Rio, adotar a casa da vovó por um ou dois meses, transferir o curso pra lá, me virar pra pagar, continuar freelancer e fazer toneladas de direção de fotografia, roteiros...

Ou posso largar tudo e ir pra Australia; ou posso prestar vestibular para Ciência da Computação, ou posso ir de vez pra Itália, ou pra Áustria, ou pra o Egito, ou pra Yargo. Possibilidades infinitas, coragem escondida atrás da comodidade. E da saudade antecipada dos que ficarão por aqui.


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