— Você é uma das mulheres mais interessantes que eu conheci nos últimos anos. Você não merece o que você faz consigo mesma. Sabe qual é o seu problema? Você é múltipla, consegue pensar com clareza em cinco, seis coisas diferentes ao mesmo tempo. Tem "taquicérebro", não pára. Precisa se movimentar para que o corpo não sofra com a sua agilidade.
Ouvido de um cara que conhece mulheres melhor do que nós mesmas. E assim, num fôlego só, sem que ele ou eu respirássemos. As pessoas se juntaram num trabalho conjunto de ajuda ao próximo?
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Bittersweet Day. Fui com uma amiga muito querida para uma reunião no local onde vai ser o Festival de Verão. Pela primeira vez pude ficar sentadinha, só de espectadora, saboreando cada martelada, cada grito no palco.
Backstage é mágico. Alguma coisa naquele burburinho frenético carrega o ar de uma eletricidade que causa ondas de arrepio, e uma estranha sensação de coletividade, de ser parte de um todo. Sempre, sempre é assim.
Hoje, entretanto, foi um pouco diferente. Não me senti fazendo parte daquela orquestra bem regida. Era uma observadora, voyeur num vão de janela, espiando o vizinho gostoso trocando de roupa. Nunca terei aquele vizinho, mas eu adoro ficar olhando, degustando com os olhos do pensamento.
Esse festival não é meu. Mas foi um dia. Foi num dia em que eu ainda acreditava em lealdade alheia, emcorações bons, em almas iluminadas como parceiras de trabalho. Esse festival foi meu de dentro da house, comemorando o aniversário de um amigo querido. Esse festival foi meu quando a minha equipe dos sonhos modificou todo o nosso esquema de trabalho por causa da escalação para o evento.
Uma alegria doceamarga fez com que os cantos da minha boca se curvassem ligeiramente para cima. Um meio sorriso. Escárnio de mim mesma. It´s time to be happy, and no pain, no gain.
Revi meus amigos de trabalho, minhas duas equipes queridas, a apresentadora com quem dividi quartos de hotel, risadas e pizzas frias depois de 20 horas trabalhando. Senti um friozinha na barriga com a afinação das câmera, fui no caminhão de corte, abracei e beijei quem estava disponível. Troquei um longo e mudo abraço com o meu cinegrafista mais cúmplice, mais companheiro. Votos de boa sorte nessa minha nova empreitada foram ditos, e tenho certeza de que mais da metade foi de coração.
Eu fiz a minha opção. Não me arrependo dela por um único segundo. Faltava-me a consciência de que não posso ter os dois mundos. Hoje essa consciência me caiu como um raio. Podia ter doído mais, mas friamente eu consegui colocar na balança os prós e contras. Um mundo e o outro foram postos em cima da minha mesa imaginária, e medidos, apalpados, interrogados, ameaçados, pesados, analisados.
E um outro meio sorriso curvou os lábios daquela garota estranha, elegantíssima e destoante do ambiente dentro do seu vestido longo e fluido, azul marinho. Saber que eu podia estar ali e ESCOLHI não estar me deu uma deliciosa sensação de não-pertencer. A sensação que sempre combati hoje serviu-me de alento. Porque o não-pertencer significa que eu posso transitar pelas esferas que me apetecerem, e que sempre terei um porto onde atracar o meu veleiro. Esse não-pertencer, significa, acima de tudo, que pertenço a mim mesma.
Ver toda a movimentação de montagem do evento foi uma prova de fogo. Mas não foi, com certeza, a única de hoje.
Hoje o sol, juiz das atitudes, me cobrou "luz-cidez" .
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Pelo meu relógio, faltam 4 dias.
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