terça-feira, janeiro 14, 2003

"Tudo no mundo tem cor
Tudo no mundo é
Azul
Cor-de-rosa
ou Fruta-cor
é Vermelho ou
Amarelo
Quase tudo tem seu tom
Roxo
Violeta ou Lilás
Mas não existe no Mundo
nada que seja "Flicts"
- nem a sua solidão -
Flicts nunca teve par
nunca teve um lugarzinho
num espaço bicolor
(e tricolor muito menos
- pois três sempre foi demais)
Não
Não existe no Mundo
nada que seja "Flicts"
Nada
no mundo é "Flicts"
ou pelo menos
quer ser

Mas ninguém sabe a
verdade
(a não ser
os astronautas)
que de perto
de pertinho
a Lua é flicts!


Flicts - Ziraldo

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À hora de postagem, sempre some uma hora. Leia-se: mais uma noite insône.

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Não em branco. A menina-Flicts descobriu que existem cores no mundo que se parecem com ela. Não foi preciso ir à lua para achar seus pares. Bastou uma madrugada, um longo bate papo, e a comprovação veio: nós, os Flicts, já estamos na escala Pantone!

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Flicts é um livro de singular crueldade infantil. Conta a história de uma cor que não se assemelhava a nenhuma outra. Nunca participou das brincadeiras porque nenhuma cor a queria por perto. O azul, o amarelo, o vermelho, todos eles brincavam juntos, se misturavam. Mas não havia espaço para Flicts.

Cor estranha. Não se assemelhava a nenhuma outra, e por isso estava sempre à margem, sempre cultivando um estado de espírito muito condizente com o seu nome estranho. Ímpar em busca do par, Flicts flanou pela vida e pelo mundo atrás de alguma cor que o aceitasse. Sozinho(a), Flicts e ele(a) mesmo(a). Quase, quase conformada com a condição de exilada social, a cor Flicts só foi feliz quando descobriu que não era só. A lua também era flicts.

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Amarrando com o início, não foi preciso ir à lua.

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Mas num dia como o de hoje, que mesmo o maior sol no céu seria toldado pelas minhas nuvens — ou pelas minhas lágrimas — fica difícil acreditar que eu não estou só.

Absurdamente só, e uma necessidade quase física de pedir um colo onde a minha cabeça pudesse descansar um pouquinho. Só um pouquinho, só até aliviar um tanto desse peso, um tanto desse latejar surdo, dessa memória recorrente que não vai. Não vai.

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