quarta-feira, maio 08, 2002


Naquela noite, voltei para casa e não consegui dormir. No restaurante, alguém pedira arroz de pequi e o aroma do fruto brincou pelo ar e foi buscar a gargalhada de Thelma Reston, que era minha vizinha, naquele prédio em Copacabana, onde a vida começou a ficar veloz demais. Thelma é de Goiás e, de vez em quando, havia o cheiro característico do pequi avançando pelo prédio. Foi ali, eu lembro bem, que aprendi a esconder todo e qualquer adeus nos armários da casa. Simplesmente fui enfiando as mágoas lá no fundo, jogando coisas por cima, preparando a cama dos gatos, pois havia gatos por todo o lado.

Na época, eu tinha um gato chamado Faraó, que andava sempre a meu lado, acompanhando a minha vida cigana. Um belo dia, Faraó se cansou e, a seu modo, participou sua intenção de partir. Foi uma separação triste, mas de comum acordo. Ele foi morar numa fazenda em Cataguases, onde viveu feliz, acreditando ser um leopardo. Morreu nas patas de uma vaca assustada, depois de uma vida de grandes aventuras. Mas lembro muito de sua cara larga e seus olhos amarelos na penumbra do quarto, olhando para os mistérios da noite e, às vezes, parece que escuto seu ronronar aos pés da cama.

Na verdade, aquela noite que já vai se transformando no dia, na janela do escritório, é só um preâmbulo para dizer que você tem razão. Tudo o que é eterno não admite possibilidades.



Ele. Sempre ele. Miguel Falabella, q tem o dom de me fazer ficar pendurada em duas lágrimas, com o corpo pendendo num abismo.
As lágrimas não caem. Nem eu.


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