quarta-feira, outubro 17, 2007

Mata-borrão de maluco

Se eu tiver que definir o dia numa palavra, é esta: ESTRANHO.

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Vinha eu me despindo de uma fantasia que estava aos trapos — suja, rasgada, e que eu insistia em ver como resplandecente —, e a cada passo caia um pedaço da veste. Não foi um dia fácil, não foi mesmo. Ouvi mal e mal o que foi dito pelo professor-gato, e era deste ouvir mal que eu voltava caminhando. Eu e minha trilha sonora portátil, que faz com que minha vida pareça um seriado da Sony e se torne um pouco mais palatável.

Pois é... vinha eu me despindo desse sentimento ruim que eu estava, ranço de um fato concreto não-comprovado, quando fui abordada por um homem todo de branco. Não, não é história de fantasma, esqueça. É história de gente. Gente estranha, vamos lá, mas gente viva.

Bem apessoado, uns livros embaixo do braço, perguntou, rindo, se eu tinha me assustado com ele. Ele? Ele quem? Eu estava tão imersa dentro do meu poço feio e escuro que nem percebi que tinha gente do lado de fora.

Daí ele engatou uma conversa meio desconexa — e ainda assim inteligente — sobre o quanto havia aprendido nas duas faculdades e meia, nos vinte anos de psicanálise que estudou (e veio tentar me explicar a diferença entre Freud e Jung. Saiu com um quente e duas explicações minhas.). Disse que era culto mas modestíssimo, falou das mazelas com o pai e com a mãe, do seu disturbio sexual (nesse ponto eu dei um pulinho pra mais longe dele).

Isso levou, no máximo, dez minutos. Ele me mostrou onde morava, e continuou andando do meu lado e falando. Perto da minha casa, mas não perto o suficiente para ele identificar, parei e lancei a saída pela direita:

— Eu continuo daqui. Você fica por aqui ou continua também?

Ele me disse que era uma esquiva, mas que como ele era mais mulher que eu, porque tinha estudado psicanálise(???), entendia e se punha contra mim. Aí falou um bocado sobre Maria Madalena (desliguei meu áudio nessa hora), me tocou no braço e disse:

— Olha, eu sei que você está tendo uma desilusão porque sua aura mostra isso. E é desilusão sentimental. Você tem que se refazer, eu entendo o que você está sentindo.

OK, maluquete, you got a point. E aí, eu resolvo como?

Em qualquer filme ou livro que se preze, o cara ia me olhar com olhos esgazeados, e dizer:

— Você vai ter a resposta quando passarem sete sóis mais cinco estrelas. Não antes. Seu namorado, esse da cicatriz no queixo, o barrigudinho torcedor do Bahia, está confuso porque você coloca em risco suas convicções mais íntimas, mas ele venera o chão por onde você caminha. E daí que vocês não têm tido muito contato? O que importa é o A-mor — e ainda enfatizaria a divisão silábica.

Mas a verdade é que o doido exaltou mais um pouco sua sensibilidade, pediu um abraço (cheiroso, ele), bateu palmas e vôou.

Desci a ladeira da minha casa sem nenhum vestígio da ira que se abateu sobre mim na caminhada. Não tinha espaço. Estava tão perturbada com a falta de respostas que aterrisei em casa exposta como se tivesse feito a mãe das exfoliações.

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Alguma coisa vinha rachada desde... desde sabe-Deus-quando. Ontem quebrou.

Hoje não foi um dia típico de quem está apaixonada. Não sei se ainda estou, e não sei se o que sobrou inteiro sustenta o meu lado da relação. Estou imaginando o que será da sexta-feira.

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Nunca vou à Praia do Forte e Imbassahy para voltar sem alguma GRANDE coisa boa acontecendo. Vou fazer a fotossíntese amanhã, dar um rosa nessa pele macilenta, e só então decidir o que fazer da vida.

Um comentário:

Anônimo disse...

Pera, pera, pera... Pára tudo!!!!!

uma pessoa:
- engata uma conversa sobre Freud e Jung,
- fala que cursou duas faculdades e meias (me pergunto qual será essa meia),
- estudou psicanálise por 20 anos,
- se disse culto,
- tem distúrbio sexual (?)
- veio com papo de aura?

Isso, obviamente, quer dizer que:
- ele FEZ psicanálise por 20 anos
- abandonou a psicanálise precocemene, e para ela precisa voltar,
- deve fazer sexo com animais, de preferência com taturanas,
- é atraída por auras como a de Dani, que, de quando em vez, atrai isso... :D

Aceita Jesus, Dani! :D

Beijoooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo SAUDADEEE!!!