Minha vida é surreal.
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Espero que os dias que nascem e morrem tragam uma resposta para a pergunta que faço e não faço ao mesmo tempo. Três dias de tormenta, que vão-se somando aos outros mais de mil dias de questionamentos. Dias de chuva, dias de sol, dias de lágrimas; dias de cabeça enfiada embaixo dos travesseiros, para matar sufocado o pensamento recorrente.
Acho que depois que passar essa tempestade, nunca mas serei capaz de me sentir apaixonada. Estou fazendo um esforço tão louco para impedir que chegue o que vem vindo que vou acabar matando tudo o que anteriormente eu associava ao amor. Não vai sobrar nem para a semente.
Porque é difícil, viu? É complicado matar uma coisa que é tão inerente ao meu existir. Já pensou em matar um braço? Uma perna? O coração?
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Há coisinha de pouco mais de um mês, fiz o palco do meu artista num conjunto de hotéis que tem aqui na Bahia. Eu acho que (não) sou paga só pra dar foras, só para divertir a audiência.
Levaram um anão. Bom, minha sócia foi contratada para fazer a cenografia e o receptivo. Eu continuei com a produção de campo e palco, mas sem me meter na parte decorativa e promocional. Lá pelas tantas, vejo um anão no meio da galera que ia viajar. Whatta hell is that?
Primeira parada, vamos pegar o artista.
— Dani, você já viu enterro de anão?
— Nunca.
— Pois vai ver amanhã, porque o anão foi contratado para montar no boi e nunca subiu nem num cavalo...
Ai, minha Nossa Senhora das Produtoras... Não aguentei, né?
— Isso virou GR e banda Nossa Juventude (pra quem não conhece, Nossa Juventude é uma banda de pagode onde um anão é vocalista e atração principal)!
— Com vocês: GR na Ilha da Fantasia (o avião, patrão, o avião!)!
Voltamos pro ônibus, pé na estrada. No primeiro banco, eu, minha sócia e o percussionista lindo. O assunto? Homens pequenos são chamados agora de verticalmente desfavorecidos. Empolguei-me, e danei a falar do anão que fez o Mini Me, do Austin Powers, que tem 86 cm e namora uma modelo com um metro mais que ele.
—... e vocês precisam ver que bizarro que é ela ajoelhada no chão da boate pra beijar o baixinho feioso!
Um cutucão na costela e um sussurrar me trazem de volta ao ônibus:
— Olha pra sua frente!
Olhei. E Deus, por que não me levastes nesse minuto? Na poltrona de trás, o anão sentadinho, balançando as pernas no ar e encarando esses olhos que a Terra não há de comer tão cedo! Sorri, mais pra dispersar o nervosismo do que à guisa de desculpas. Por que, Deus, por que as pessoas transportam anões para eventos?
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Pensa num evento que dá problemas. Não num problema simples. Vamos lá a situação:
.Gravação do DVD do meu artista
.Roadies que nunca fizeram palco na vida
.Músicos estressados, e com razão
Fora isso, eu lime um roadie na segunda música por pura insubordinação. Fiquei com um só, e de médio pra baixo. O palco deu todos os perrengues que podiam dar. Lá pelas tantas vem uma alma, cutuca o meu braço e aponta o anão.
Veja bem... é um show de country music. E o que raios o anão estava fazendo vestindo um poncho colorido e um sombrero? Ato contínuo, o ser humano me pergunta:
— O que é pra fazer com o anão?
Juro, juro que na mesma hora eu me imaginei passando vaselina na cabeça do anão, com sombrero e tudo, para...
— Por Deus, não me pergunta outra vez! Não pergunta, ou te respondo!
Sim, o anão subiu no boi. Empurrado pelos fundos por um cara tão baixo quanto ele, mas subiu. E não, não foi dessa vez que vi um enterro de anão.
Droga.
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