quinta-feira, agosto 28, 2003

Quero morrer. Morrer, começar de novo.

Decidido, pois: se não posso morrer hoje, vou mudar de nome? Qual?

Ah, vou ser Jackie. Como a Kennedy. É, como aquela mesma, que sofreu a maldição dos Kennedy, que perdeu o marido de um jeito trágico, que aturou as traições do mesmo com uma starlet hollywoodiana. Não, vou ser Indira, grande mulher, mas que tanto sofreu para chegar à Presidência da Índia (ou ela era Primeira-Ministra?).

Pronto, meu nome é Frida! Uh... Mas Frida não foi uma que sofreu demais, era manca, tinha bigode e era bissexual? Não me enquadro em nenhuma das categorias, fica difícil carregar um nome desses.


Certo, e não há uma Maria, tampouco uma Lúcia, ou Talita, ou nome algum que não traga em si uma carga de dor. Mas o que há de ser dito de Daniela? Da Daniela complicada, da geniosa, briguenta, passiva, compreensiva, intransigente, divertida, rabugenta?

E se essa Daniela ainda for triste, a alma da festa, a sociável, a condutora do sol, a Senhora do Lado Negro da Lua, misteriosa, escancarada, dona da da própria vida, dependente de um abraço?

Essas Danielas todas sou eu. E mais algumas. Multiface, sozinha, que tem um tanto enorme de amor sufocado, que derrete com um braço passado nos seus ombros, um carinho displicente, um elogio descompromissado.E essa sou eu, a que gargalha da vida, mas que se encolhe quando a rasteira é pequena. Que se apaixona, que sofre para matar um embrião de amor, que tem que fazer escolhas várias, caminhos trifurcados, condizentes com a sua multifuncionalidade.

É díficil de viver sendo Vera, Rita ou Ana. Mas para esta Daniela aqui, carregar estas sete letras vida afora é uma prova de fé.

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Descoberta a raiz da minha enxaqueca: uma infiltração no primeiro molar. Isso posto, estou com a boca toda anestesiada, três línguas onde só havia uma e um gostinho de cravo típico de dentistas...

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Como brigar contra, se cada dia mais me convenço de que não seria nada mau? Como entrar numa guerra de trincheira, se o oponente carinhosamente se posta ao meu lado para ajudar a cavar as minhas valas? Como matar, se os olhos do outro sorriem para mim, cúmplices do meu plano homicida?

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Um encontro num fim de tarde, horas de reminiscências, e o dia seguinte me obriga a um telefonema. Certos homem nunca morrem na vida da gente. E esse homem não sai da minha vida. Está colado na minha história como decalque de chiclete.

Liguei, liguei sim, e je ne regrette! A amiga que me trouxe as lembranças de volta jurou que éramos uma parceria perfeita. Ele e eu, o pensador, a realizadora. A criadora, o regulador. A menina e o jester.

Saudade deste que está na minha vida há quase 15 anos. Que ocupou várias faixas do meu CD, que foi o amigo, o bandido, o herói, o rockstar, o menino, o amante, o companheiro, o colega. Trilha sonora que ainda hoje ouço com certa nostalgia, rosto estampado nas fotos que guardo na gaveta, homem que escondo da luz para não envelhecer. Nem a foto, nem o amor. Amor cheirando a bolor, mas que uma espanadinha o coloca em forma.

Aquela voz me deixou alegre. Uma ilha no meio de um dia caos. Uma lufada fresca no meio do cárcere fétido. Uma nesga de sol no cinza do inverno.

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