sexta-feira, agosto 01, 2003

Tiro os óculos, coloco as lentes, pisco. Testando vídeo, OK, faço o balance dos olhos, estou pronta para enxergar. Subo na balança, vamos ver o estrago da última quinzena... O QUÊ? Eu emagreci?

Saltitando qual a noviça rebelde pelos campos austríacos, vou pra cozinha quase cantando:

— Alguém tem subido na balança pra me dizer se ela está correta?

Algas, lá do quarto:

— Eu não! Eu quero é ser feliz!

Papai, na cozinha comigo:

— Eu não gosto dessa balança, Dani. A outra eu subia, descia, subia, descia, até que ela marcasse o peso que eu queria...

E ele ainda arremata:

— O mal dessa balança é que ela não aceita negociar!

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Menina linda, barriga redondinha, trinta e nove semanas de espera. Vinícius Valentim, 3 quilos e 100 gramas, leonino. Lá dentro ainda está quentinho, escurinho, sair que é bom ele não quer.

A mãe, dona de placidez invejável, altaneira como uma Virgem Maria, espera com paciência o dia em que seu sono não será mais initerrupto. O pai já sabe o que é não dormir uma noite inteira... Aliás, há duas semanas ele não sabe mais dormir.

— Você vai trançar os cabelos sábado que vem, Zeba? Me liga que eu vou com você!
— Clari, por Deus, você não vai a canto algum no próximo mês! Você vai é ficar se recuperando do parto!
— Recuperando do parto, Dani? Em dois dias estou liberada para sair! E nem vou trancar minha faculdade!
— Clari, só os índios se recuperam em dois dias, tenha juízo!


Segue ela, com hábitos silvícolas, achando que vai dar à luz Macunaíma. Segue o Dani, pai insône, e olha que o Vini nem nasceu; segue o tio, bipolar que ontem estava no dia de magnanimidade com os outros mortais, e sigo eu. Eu, tia atrasada e retardada, mãe de carreira frustrada, que tive que ser uma bem-sucedida profissional de comunicação para calar a vontade de criar uns cinco guris, que berrassem impropérios, que me fizessem perder noites de sono por causa de uma nota vermelha na caderneta.

Crianças minhas, minhas, com mãozinhas pequenas agarrando meus cabelos, quebrando meus bibelôs de vidro, meus controles remotos e meu coração. Filhos, pelo menos três, para eu poder olhar para todo mundo com o mesmo ar pleno, tendo a minha barriga como mira, minha criança como objetivo, nossa felicidade como meta.

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