sábado, abril 17, 2004

Encomedada fosse a noite, não daria tão certo.

O bar era o mesmo de 15 anos atrás, a vista a mesma, e olha só!, as músicas eram as mesmas. Foi uma entrada no vórtice temporal. Todas as risadas dadas em 15 anos foram resgatadas. As paixões, os ressentimentos já apagados como inscrições em lápides: só que sabe o que tinha escrito ali consegue adivinhar o texto pelo relevo sob os dedos.

Guilherme foi meu primeiro namorado na Bahia. Eu tinha 12, ele 17. Depois de mim, foi namorado da minha irmã. E depois dela, meio mundo. É o mais antigo amigo que eu tenho na vida.

Gui ainda é Azzaro puro, whisky roubado, piadas sobre o Minhoca, amigo dele por quem sofri de paixonite aguda, sobre os amigos de antes, sobre como estamos agora. Estou a exatos dois meses dos 28 anos, ele fez 33, e a gente continua cúmplice. Eu continuo voltando para casa com o cheiro dele entranhado na pele, com o fígado desopilado de tanto rir.

Não, nunca tivemos uma recaída. O amor que existe entre nós transcendeu a carne, o Eros. É o amor de almas, de pessoas, de seres. Não de um homem e uma mulher. É um amor incondicional, enfim. É o amor que garante guarita para os dois. Eu estou segura com ele, e vice-versa.

Só ele, só ele mesmo, para me tirar de casa hoje depois da meia noite para um bar meia-boca. Só por uma questão de sentimentalismo.

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Como eu fui feliz. Como nos fizemos felizes nesses últimos 15 anos.

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