domingo, dezembro 30, 2007

In der welt zein


Eu só me sinto pertencendo ao mundo em duas ocasiões, atualmente. Uma é entre os meus (poucos) amigos, no bar de sempre. É quando estou flanando entre mesas, conversando com pessoas a quem eu dedico alguma estima, sendo cutucada tão carinhosamente pelo garçom-chapa.

A outa ocasião me atingiu como um raio, hoje. Levei a Lourinha para a passagem do som do show de amanhã, na Barra. Casaco para as duas na mochila, shorts, tênis e fomos nós. Essa é a minha vida, essa de preparo dos eventos, sets e estúdios, e queria que ela visse um pouco do processo através dos meus olhos.

Eu não estava preparada para ser acachapada dessa maneira. Foi uma confluência de fatores: o sol se pondo, o céu já meio tinto de vinho; as notas graves da percussão sendo passadas, num martelar surdo que acertou a marcha do meu coração. A house montada, a turma da TV lá no alto, afinando câmeras, as gruas montadas, os últimos pares de luz de platéia sendo içados.

Eu fiquei ali, parada, contemplando aquele universo em metal e som, e toda aquela gente querida transitando, fazendo, movendo as rodas do processo pré-evento, que a esmagadora maioria nem se dá conta de que acontece. Esse foi o momento do estalo: EU SABIA EXATAMENTE O QUE ESTAVA ACONTECENDO.

Eu sabia em que etapa da afinação as câmeras estavam, porque a torre da house era construída onde estava, que o telão de leds devia ter 7 mm de espessura, e que não devia ter vindo de Salvador. Sabia calcular quantas câmeras seria usadas, sabia quem era a equipe que estava lá, conhecia a empresa de som, cumprimentei chefe de carregadores.

Isso tudo veio num átimo de segundo, como um clarão de flash. Aquele assunto eu dominava. Àquele mundo eu pertenço. Aquilo faz parte da minha rotina, eu conheço todos os trâmites para se chegar a um evento desse porte. Mesmo que o evento não seja meu, eu faço parte dessas engrenagens!

Quando me dei conta de que ali era um lugar confortável para mim, dos poucos no mundo, eu me senti poderosíssima, muito mais do que em outros dias de epifânias. Senti como se fosse feita do mesmo aço das estruturas, como se comungasse com o som que agora vinha de dentro de mim, como se fosse o lilás que pintava o céu. Senti poder fluindo para e de mim.

Pisei os pés no chão de novo, e ainda plena dessa força, peguei a Lourinha no colo, e fui explicar para ela sobre as alegrias de se ver um show de dentro da house.

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Aquele colega de trabalho não mais tropeça nos próprios pés quando me vê. Mas foi IMPAGÁVEL ver a carinha dele quando esbarrou comigo hoje, na passagem de som. Tenho certeza de que eu era a última pessoa que ele esperava encontrar ali. E foi quase um esbarrão mesmo, quase físico.

Eu achava que era a última pessoa adulta do mundo a ficar ruborizada. Mas ele... Ele superou a mestra. Ficou tão atarantado que não me cumprimentou. Odeio falta de educação, mas vindo dele, sempre polidíssimo, eu sei que foi o susto, e não descortesia.

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Nos vimos nos últimos dois dias, conversamos muito, rimos e falamos sério. Em algum momento ouvimos somente a voz um do outro. Quando ele vai embora, eu não consigo NUNCA me lembrar da sua voz. Eu sempre limo o timbre da risada dele da minha cabeça. E sinto uma falta, porque mesmo não lembrando, eu sei que é um som que me deixa feliz.

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No hai ieri, no hai domani

Em 15 minutos terei um blog novo. Sem assinatura, sem traços, sem soltar as tiras, nem deixar cheiro. Tem muita coisa que está engasgada e que vai ser vomitada ali. Nem adianta procurar. Não vai estar vinculado a nenhuma conta do blogspot que eu já tenha.

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