segunda-feira, fevereiro 02, 2004

Auxiliar de carpintaria, sem jeito como só eu. Cama encaixada, dedo machucado, arquejos de dor e fuga para o banheiro.

— Me dá um minuto sozinha!

Sangue, dor, mais e muita. Minha vida na ponta do dedo, dedo que sangra, unha quebrada no meio, machucado lavado com lágrimas inoportunas. Ou estou ficando fresquinha ou ele desperta o que de mais sensível eu tenho. Duas enxurradas de duas lágrimas em duas semanas, e ele por perto nas duas vezes... Isso deve ter algum significado cabalístico.

Dez minutos em pé, cabeça baixa, dedo em riste, e seco as duas lagriminhas, lavo o rosto, volto desenxabida. Bochechas rosadas de choro, e quando dou por mim, ele está segurando a minha mão, olhando para o meu machucado. O ciclo de dois é rompido, então: ganho três beijos, um deles no dedo, para passar. Droga, será que eu vou chorar de novo?

Garganta apertada, como é que ele consegue fazer isso comigo? Sempre fui tão forte, nunca precisei de beijinhos de ninguém para cuidar de mim... Por que logo agora estou tão vulnerável às manifestações de carinho? E se/quando acabar, o que vou fazer com as sucatas que uso (ava) para me defender dos ataques de beijinhos e carinhos?

Não, não chorei. E não é que o beijinho no dedo mitigou boa parte da dor?

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