Tarde quente, sonolenta, estranha, e meu espírito só achou a paz quando sentei naquele chão que já me é familiar. Olho meio aberto, o outro meio fechado, encostada na cama do amigo querido, lagartixando pós-comidinha. Ainda não era paz, mas estava até bem encaminhada.
Não estou conseguindo a adaptação à nova impulsividade dos meus. Adoro mudanças, mas não cobrem a minha: tudo na vida tem sua hora. Respeito o momento de absolutamente todo mundo, insisto até quando vejo que esse é o limite alheio. Mesmo que me doa, coloco em ponto morto, sigo naquele compasso de espera, esperando o sinal verde para continuar avançando. Ou engato a ré, faço a volta e vou embora.
Mas não tentem forçar a minha mudança. Respeite o meu tempo, não é assim. A flexibilidade de um bambu tem um fim. Se forçar demais, quebro, encurto, inutilizo. Um pouquinho todo dia, enverga com cuidado, com carinho, deixa que eu volte à posição inicial, para tornar a empurrar mais um pouco no dia seguinte. Nada brusco, isso dói, não funciona, enteso e não cedo mais nada.
E nessas ruminações, sentada que estava no chão de um quarto, dormitando o final da novela, ganho uma cabeça no meu colo. Mãos distraídas se ocuparam no carinho no cabelo alheio, fazendo nele o que gostaria de estar ganhando. Ah, tá valendo.
Continuo longe, viva somente na mente e nas mãos. Resolvo ligar o vídeo, ainda sem volume. Aguço os olhos e vejo o tal Marcelo Dourado, profissão: BBB, tema de uma conversa que promete se prolongar na noite de hoje. Minha amiguinha de 17 anos no final estava certa: as costas daquele ser humano são hercúleas!
Uma risadinha me tira da inércia. Sincados áudio e vídeo, sincronizados corpo e alma, afetos e dores; cabeça ainda no colo, mãos que não haviam parado o carinho, e finalmente alcanço os 15 minutos de paz a que todo mundo tem direito uma vez por dia. Não sei se foi o pão caseiro, a textura da pele e do cabelo sob as minhas mãos ou a perspectiva da conversa com a minha amiguinha quase pós-adolescente: estava em casa.
Estiquei o corpo num espreguiçar de gato de beco, gata satisfeita, e me atirei com ânimo redobrado no cafuné daquele que estava no meu colo. Felicidade é tão simples, às vezes...
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