sexta-feira, fevereiro 27, 2004

Meu sucesso na categoria frieza é relativo.

Nem me lembrava que nem mais a amiga ele tinha. Esqueci das minhas determinações auto impostas: não sorria, não ceda, não fale, não ouça; não me beije, não me toque, não me afague, eu não existo, tampouco você.

O pátio foi coberto em duas passadas. Nossas saudades um do outro não permitiram um caminhar mais lento: eram largos os passos, era imensa a falta que fizemos um ao outro. O abraço foi tão hermético que entre nós não cabia mais nada. Nem palavras.

Foi a volta à casa em 60 segundos. Quisera eu poder legar a todos os meus a felicidade pura que foi minha naquele espaço entre uma batida e outra do coração. Quisera eu ter a garantia de que uma vez mais na vida vou me sentir tão plena quanto fui naquele minuto, minuto em que os relógios se congelaram, e que nada mais havia, nada que não fosse ele. Nada que não fosse eu. Nada que não fosse nós.

Que saudade daquele cheiro, daqueles braços, daquela voz matreira, amiga, cúmplice! Quem sou eu, pequena, insignificante, para me punir desta maneira, para privar os meus sentidos desses estímulos? Quem sou eu para achar que eu vou viver sem e continuar completa?

Quando dei por mim, as resoluções de me manter à distância já estavam no chão, agonizantes; já tinha recebido um monte de beijos, beijos no pescoço, no rosto..., um carinho na mão. Já tinha sido crivada de perguntas, já tinha declarado a minha saudade enorme. Ele já tinha choramingado alguma coisa sobre ter sido abandonado, eu já tinha pedido desculpas aos céus, aos deuses, aos meus, desculpas por incorrer no eterno erro da prepotência.

A história é longa demais, bela demais, poderosa demais para ser aniquilada pelas minhas dúvidas existenciais. Cada dia mais eu descubro que sem algumas pessoas, eu estou pelo meio. Sou apenas um croqui da mulher intensa, completa, poderosa, que sou, quando os meus dois ou três pedaços estão comigo.

Voltei pra casa mais dona de mim. Hoje eu sou uma mulher de verdade.

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E antes que você se atreva a sentir inveja, esqueça!
ISSO NÃO PEGA EM MIM!


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E num paradoxo que vai causar o caos no meu microuniverso, descobrir que sim, preciso deles para estar inteira, me fez voltar ao estado mais confortável do meu comportamento: eu me basto a mim mesma. Não preciso contar para ninguém o que me dói, não tenho necessidade de confissões. Mantenho o sorriso ligeiramente histérico no rosto, esgar de alegria que os incautos decodificam como felicidade real.

Pode até ser. Mas só eu sei o que ainda raspa minha alma e deixa sensíveis as arestas, como dente latejando dentro da boca. Só eu sei da delícia de precisar, e da maravilha de não depender. Só eu sei o quanto é bela a minha ilha, ilha de uma mulher só.

Só eu sei o quanto é bom, e o quanto é ruim, ser Daniela Henning.

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