sexta-feira, fevereiro 20, 2004

Daniela na Ilha Quadrada

Se alguém disser que me viu no bloco Os Mascarados...é verdade!!!



— Luciano, você e a Mon querem que eu vá, mesmo sabendo que eu ODEIO carnaval, que eu não vou me divertir, que eu vou ficar rabugenta e que eu estou morrendo de sono?
— Queremos
!

E eu fui.

Duas, duas horas da manhã, e o trio marcado para sair as nove da noite aninda não tinha saído. Anjos de pelúcia lilás, deuses gregos, romanos e nagôs, muçulmanos, Filhos de Ghandy e árabes conviviam pacificamente. Índios, policiais e cowboys soltos na buraqueira quase fizeram a maior concentração de covers do Village People. Sóbria qual uma freira, broxada como velho sem Viagra, escapando do Robertinho, que queria me beijar a todo custo — desde antes de chegar perto da concentração —, com uma dor de cabeça que faria meus olhos saltarem, como saltam os olhos dos cães pequineses.

— Vamos passar a corda?

Nãaaaaaaaaaaao! Olha a quantidade de gente, olha que festa estranha, com gente esquisita, e eu não tô legal! Vamos atrás do trio, ao invés de na frente! Vamos beeeeem atrás, de preferência a quatro quilômetros de distância do último. Não funcionou. Entramos no bloco, e aí começa de verdade o meu calvário. Antes tinha sido só ensaio.

Nunca vi concentração de bloco ser na frente de um hospital. Pois aqui é, e já que estou dentro, cadê a música? As pessoas se espremiam como na brincadeira de "Gata Parida" — se você nunca brincou disso, problema é seu! —, pisavam nos meus pés, e nem quero ver os hematomas na minha costela, hoje.

***

— Aaaaaaaai, eu nuuuunca me diverti taaaaaaanto!

Músicas do carnaval de 1988, e não é que isso está ficando maneirinho? Uma biba LINDA me abraçou, abraçou o bofe dele e saímos os três saltando qual rãs no banhado. Banhado, aliás é o nome correto para aquele lamaçal. Porque choveu, Fiel Leitor. Claro que choveu, ou você acha realmente que eu ia sair sem o pacote completo pisões+cutucadas+agarrões lésbicos+lama nas pernas? Sim, meu prezado, agarrões lésbicos, porque caso você não saiba, Os Mascarados é um bloco GLS. E errada sou eu ali no meio, que nem metrosexual sou. Chega-se a um ponto que confessar que sou hetero quase vira motivo de vergonha.

As sandálias da Mon arrebentaram antes do desfile, o que fez com que comprassemos um tubo de Super Bonder... Que tentamos utilizar após a chuvarada, com as tiras da sandália em pandarecos. E molhada. Claro que não deu certo, e ainda assim, de sandálias na mão, meias fazendo shlot! a cada pisada no chão, voltamos Mon e eu — que ainda estava composta — para o fundo do trio em busca do Luciano, o padre perdido; da Regina, a Bruxa Keka absurda de linda, e da Edyala, um arraso em preto e dourado.

O ponto de encontro era dentro da caixa de som. Ou juro que essa foi a minha impressão. Depois ficou diferente: a caixa de som estava dentro de mim. Mais precisamente alojada entre os meus nervos óticos, o que fez com que os olhos estremecessem a cada batida de tambor. E não é que os bonitinhos mudaram de lugar? Ficamos a duas patas ensurdecendo enquanto as belezinhas estavam lindas e louras mais atrás.

***

Como resolvi ir embora?

Quando uma moça resolveu que eu seria sua próxima namorada e desandou a me acoxar. Tudo, tudo na vida tem um limite! Juntei meus cordões de tênis e para o alto, e avante!

Moni, linda no ínicio da festa, fantasiada de mocinha dos anos 50, na volta parecia Alice voltando do País das Maravilhas, depois que o chá de lírio perdeu o efeito. Eu, um troço molhado e lambido — e quase beijado —, com pedrinhas dentro do sapato, resmungava sobre nunca mais tentar conviver momescamente falando. Meu carnaval durou exatas duas horas.

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A parte boa

Alguém tem noção do que é saltitar ao lado do Fause Haten, único, charmoso, de um, tudo? Será talento pega só de encostar? E o que há de ser dito do Vladimir Brichta, de camisa do Super Homem, molhado de chuva, mexendo com o meu imaginário? E o namorado do Paulo Borges, do SPFW, um ser branquinho que nem sabonete Lux, lindinho?

De toda sorte, não devo repetir a façanha carnavalesca. Resfriei, a cabeça dói, e o pior de tudo: NEM É RESSACA!

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