sexta-feira, fevereiro 27, 2004

A maldição do Prozac

Hoje até um carinho desajeitado do chimpanzé seria bom. Carinho outro, que não fosse do meu maço de Marlboro, das minhas próprias mãos que afagam os meus cabelos ticianescos, das pessoas guardadas — e amarelecendo — nas centenas de fotografias que amealhei ao longo dos anos.

Queria que tanto amor saísse do papel Kodak de volta para mim, que o silêncio que escuto agora fosse rompido pelas risadas da hora do instantâneo. Queria que as pessoas voltassem ao momento exato da foto, que todas elas pudessem se reunir num grande grupo. Pessoas de todos os tempos, livres do sépia característico do tempo em que estiveram longe de mim. Queria estar de volta àquela escadaria de igreja, num longínquo sul baiano. Queria sentir de novo o sabor do beijo, a textura da boca sobre a boca, o gosto da bala que me foi dada pouco antes de fazer uma pose mal humorada diante da minha câmera.

Acho que por isso gosto tanto de fotografia. As pessoas costumam trafegar com muita rapidez pela minha vida, entram e saem na velocidade do obturador. E somente com os pedaços de papel eu posso provar que um dia fiz parte de um todo, que um dia fui especial o suficiente para figurar nas minhas próprias fotografias. Um dia eu fui amada pelo que sou, estivesse em plena forma, ou estivesse completamente over weight — como agora —, e a imagem gravada está aí para não me deixar mentir.

Um dia eu fui NÓS, fossemos dois, fossemos dez. E é cíclico: volta e meia eu consigo conjugar os verbos na primeira pessoa do plural.

Sim, Leitor Fiel, às vezes eu sou feliz.

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TANGOLOMANGO HOJE!!

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