quinta-feira, abril 24, 2003

Ainda com roupa de sono. Todo dia ela faz tudo sempre igual.

A eterna vontade de dormir. Dormir o dia todo. Dormir a semana inteira. Dormir o resto da vida. A roupa de sono ainda não saiu do corpo, e quer porque quer voltar pro seu habitat natural: a cama. Os olhos se afogam em águas de bocejos, que nem de longe suprem a necessidade de deixar cair lágrimas sentidas rosto abaixo. Dois dias de vontade, mas eu não posso.

Eles precisam de mim. Eles precisam de mim forte, dona da situação, alma da festa. Sou uma espécie mutante, quase irritante aos olhos mais sensíveis: ombros largos, orelhão feito para escutar, braços longos que se estendem num abraço de quilômetros, abarcando o corpo querido através da linha do telefone.

Queria ser ouvida mais vezes. Mas eu não vivo, não produzo histórias para contar. Vivo, sim, através da vida das outras pessoas, personagens de livros e filmes, amigos, conhecidos. Junto meu conhecimento de almanaque e saio distribuindo em panfletos sujos, literatura de cordel a preço de nada. Planejo mudanças drásticas de vida, de faculdade, de cor de cabelo. Planejo, apenas. A dieta me afastou do feijão, fonte de vida dos rins, que por sua vez, são o centro dos desejos. Os meus rins não funcionam bem o suficiente para executar as mudanças. Falta feijão na minha vida. Sonho já tem demais.

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Para os não iniciados, a comparação entre dois extremos vem de um livro, "O Feijão e o Sonho", do Orígenes Lessa.

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A música que ouço não é minha: é do vizinho.
O humor estável não é o meu: é do Prozac.
O computador onde batuco as teclas não é meu: é da mamãe.
A vida que vivo não é minha. Aliás, nem vida é...

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Voltar a trabalhar.

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