E dificilmente consigo comentar no blog dessa outra menina linda e divertida.
Perdão, garotas, se não é o erro no programa, é o erro no meu sistema... cerebral!
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Nota suite
O saldo de ontem foi: uma dor de cabeça chata, um ar meio perdido, aéreo, dificuldade em fazer o foco dos olhos, um calombo dolorido na perna, alguma ziquizira invertida na cervical, e dói, e uma irmã que ficou a manhã toda brigando comigo porque eu não queria ir até a emergência do Hospital Espanhol.
Estou ótima, só um pouco desnorteada. Mas... as formigas fazem rastro quando andam, como em slow motion?
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Imperfeito pretérito
— As flores foram mandadas por mim, sim, porque gosto de você.
Quase dez anos depois de dizer essa frase, encontrei o objeto do meu amor colegial num bar à beira mar.
Papai terminou a prova do concurso, e resolvemos, Miriam Lane, ele e eu, soltar o corpo ao sabor do vento, flanar um pouco por aí. Acabamos num bar de praia, cerveja gelada, algumas boas risadas.
Pan invertida nas outras mesas, um rápido close em um, plano aberto nos outros, um freeze num terceiro, volto as atenções para o meu mundinho. O geminianismo, entretanto, não me permitiu saciar a curiosidade com aquela rápida vasculhada. Continuei com os olhos-câmeras ligados, procurando uma imagem mais saborosa, para finalmente apertar o disparador e guardar na memória feito fotografia, que certamente sairia quase em preto e branco.
Domingo cinza, nuvens que servem como difusores naturais de luz, fresnel de Deus. Óculos escuros, bolsa em tecnicolor carregando saudade, coragem, cautela e desencanto. Nesses dias sem cor, eu me pergunto quais os planos celestiais pra mim. E com essa indagação sapateando na minha cabeça, novamente fiz uma varredura pelo bar.
Dei com um par de olhos fixos em mim. "Deus, se esses forem seus planos para esta alma, prefiro a sugestão anterior, a de reclusão religiosa...". Ele não era feio. Só não era o meu número.
Nem meu ego atrofiado conseguiu se manifestar. Como é que vou arranjar um namorado se continuar nesse azedume blasé? A curiosidade foi mais forte que o meu desinteresse: volta e meia olhava disfarçadamente, olhos protegidos pelos óculos escuros, para ver se o tal ainda manifestava interesse. Sim.
Abri o zoom da câmera, abarquei com os olhos os outros da mesa. Três homens, uma mulher. Dia de Vitória e Vasco, um deles estava com a camisa do Vitória. "Bom, pelo menos tem bom gosto". Dediquei um pouco mais e atenção a esse simpático simpatizante do meu time na Bahia. Míope e burra, mas ainda assim conseguir absorver os cabelos louros escuros, lisinhos, o cavanhaque castanho claro, bem aparado, o perfil bem feito, os óculos escuros. Hum, interessante. E só.
Dez, quinze minutos se esvaem, areia fina na ampulheta, e na rua passa um ex-affair de carro. Pára, buzina, conversa com alguém do bar onde eu estava, segue adiante. "Puxa, anos sem ver o Fulano, aquela deve ser a mulher dele, e o menininho atrás não nega a ascendência..."
O delay de 15 minutos se ajustou. Voz e imagem, passado e presente, a camisa rubro-negra: tudo foi syncado, e eis-me a 10 metros do homem a quem não via há quase 10 anos. A frase com a qual inicio este texto voltou paara a minha cabeça, bala disparada à queima roupa.
Em tempos outros, mais doces e delicados, mandei flores para ele, margaridas puras como o meu amor juvenil. Flores brancas que iam acompanhadas de bilhetinhos datilografados, minha letra era por demais conhecida deste que era um dos meus parceiros de trabalhos escolares. Trechinhos de música, uma frase minha, sem assinatura, e lá iam os meus bilhetes, as minhas flores, o meu amor.
Cansei do jogo de dupla personalidade. De manhã, a companheira de cafezinho e cigarro na banca da esquina; de tarde, de noite, de madrugada, a idiota apaixonada, a bolar frases de efeito para ganhar o amor daqueles olhos verdes. Contei.
— Fui eu. Gostava de você.
— Gostava?
— Gostava, sim! — sem perceber que o verbo no passado jamais me daria a oportunidade de saber se ele sentia o mesmo. Gostava ainda vem de "não gosto mais". Pretérito imperfeito, imperfeito como eu; ação que se realizou no passado e não terminou. Mas aí já era exigir demais do português dele e do meu bom senso.
Continuamos amigos, companheiros de cafezinho e cigarro, farras, cervejadas. Ele engordou muito, continua abusadamente lindo, ao contrário do que se poderia supor com a informação dos seus quilos a mais. Ele é a prova viva de que excesso de peso não significa feiúra. E não falo isso porque sou quase uma ex-gorducha.
Fui embora sem ao menos cumprimentar. Não estava pronta. Passei exatamente na frente dele, vi com o canto dos olhos que ele me reconheceu. Ajeitei a coluna, encolhi o restinho de barriga, e segui adiante, altaneira, intocável.
Não adianta: qualquer possibilidade de dar certo foi assassinada por um verbo(,) no passado. Verbo no passado, história no passado. Pretérito. Imperfeito. Pretérito e imperfeito.
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Ouvindo
Primeira: One fine day, do Marillion
Agora: Neddles and pins, dos Ramones
A próxima: Still waiting, do Sum41
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