Amanhecer com Quiroga
"Chegou o momento esperado, não há mais possibilidade de escolher e por isso é inútil duvidar ou mergulhar em dilemas. Alegre-se! Não há mais nenhuma chance a não ser esta, de todos sermos felizes ou ninguém consegui-lo."
Eu odeio quando ele me dá um único dia para pegar o caminho certo...
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— Olha aqui, Daniela, infelizmente eu não posso fazer uma única crítica ao seu trabalho na quarta-feira. Você foi perfeita.
De uma amiga coordenadora sem-noção, que é parcimoniosa nos elogios.
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Quinta-feira, 21:02, Ladeira da Barra
Linda. Não havia outro adjetivo para aquela menina colorida. Vestido cor-de-rosa com florezinhas azuis. Bolsa azul, numa padronagem louca. Cabelos longos, lisos, entre o louro escuro natural e o resto de vermelho que um dia esteve lá. Sorriso na boca: que saudade daquele que dirigia o carro do outro lado da rua, que a esperava.
Trânsito lento no sentido Barra-Campo Grande. Gentilmente o dono do Tipo pára para a menina linda passar. Na outra pista, um táxi devagar, procurando passageiros, esperando para ver a menina colorida passar. Ela ergue um polegar camarada para o dono do Tipo, um sorriso rápido, e atravessa, preocupada com o carro-táxi que desce do outro lado.
Ela estava lá. De repente não estava mais. A menina colorida sumiu? Não: desabou no chão, sem chances de se equilibrar. Estendeu o corpo todo no asfalto, deitou a cabeça na faixa amarela das pistas. Primeiro ato: baixou o vestido que havia subido até a cintura. Continuou deitada.
— Levanta, sai do meio da rua! — fala o motorista que a esperava
— Eu não quero! Quero morrer! — choraminga a menina.
Não dava pra passar o resto da vida deitada ali. Ou dava? Não deu tempo de tentar: o homem que a esperava finalmente conseguiu se desvencilhar do cinto para ajudá-la. Pé levemente torcido, trânsito parado dos dois lados, joelho ralado, nem o motorista do Tipo nem o do táxi arredaram pé. Bom, o do taxi não podia, só se passasse por cima de mim. E naquele momento, era uma boa idéia. Nenhum dos motoristas ria. Que bom, as pessoas ainda têm alma. Menos eu. A minha sucumbiu. De pura vergonha.
Trânsito voltou a fluir. O cavalheiro amparou a ainda bela dama, recolheu suas chaves, seu celular — que mais uma vez foi arremessado à distância; deu-lhe dois abraços apertados, abriu a porta, disse o quanto ela estava linda, o quanto estava magra, deu a volta, entrou no carro.
— Você está bem?
— 'Tô...
— Posso rir agora?
Silêncio rápido. Um olhou pro outro com ar meio estupefato, e como que ensaiados, começaram a gargalhar. Bistrô, here we go!
*Nesse episódio, nenhum coelhinho foi ferido. Nem o meu orgulho. Só o meu joelho.
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