Acordei pensando que era uma e meia da tarde. Olhei errado no relógio: eram 7 da madrugada. Para essa alma que mal pregou os olhos ao longo da noite, que teve sonhos esquisitos e movimentados, sim, é madrugada.
Duas idéias de texto na cabeça, uma sumiu. Vou ver se acho lá por debaixo dos travesseiros. A aridez criativa está no fim. Uma saudade que não desapareceu. Alguma coisa está errada no cumprimento das minhas ordens...
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Abril é um mês peculiar. O céu é azul em abril como não é em nenhum outro mês do ano. E por que o azul de abril é mais bonito? Porque é mais profundo, porque dá mais vontade de esticar o pescoço para fora de casa, qual uma quelônia, colocar blusinha tomara que caia, salto plataforma e sair para fazer a fotossíntese.
E foi o que fiz. Reverenciei abril como há muito não fazia. Coloquei a alma do lado de fora, para secar e tirar o bolor. Prendi os cabelos com o panda, faixa listrada na cabeça, e lá fui eu, versão feminina do Davi Moraes. E vi pessoas, vi pombos — milhares de pombos, brancos, cinzentos, marrons. Pombos... talvez a minha primeira paixão consciente... —, vi carros, vi o sol, vi o mar. Vi o céu. Azul, azul, azul, profundo, como só um céu de abril consegue ser.
Num dia desses, é até fácil de acreditar. Acreditar em ser feliz de novo, acreditar que tudo vai dar certo, acreditar que sim, amor existe. Fica ais fácil de olhar pra frente e ver um caminho tranquilo, sem pedras lançadas de outros planetaslugares. Fica fácil de acreditar que um emprego genial vai cair do céu, que um homem maravilhoso vai cruzar o meu caminho, e que vai me levar ao cinema, me apresentar para os amigos, me chamar de "Meu amor".
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Eu nem quero tanto. Um emprego que me pague bem e que eu adore e que me obrigue a viajar duas, 4 vezes por mês para grandes capitais. Um namorado legal, que saiba rir e seja inteligente. Quero também aprender Flash, um apartamento no Oceania, um livro de I Ching, um discman com MP3. Uma teleobjetiva para a minha câmera, um abraço apertado, a garantia do amor que não vai me deixar, estrelas por todas as partes.
Na verdade, ser feliz resume tudo. É a única coisa que eu quero. Ser feliz.
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A águia está empoleirada no alto da minha cama, olhando com cobiça para o céu azul anil lá fora. Ela e eu, querendo ganhar o mundo, tomar um rumo onde céu se confunda com chão, onde o azul machuque os olhos, de tão puro. E ambas na clausura, de novo.
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