Por que, M? Por quê?
De um homem de 47 anos, que conhece 26 países, menos chocante. Mas você? 23 anos, M? Conhecia dois, três países, só! 23 anos, M!
Eu tinha uma inveja tão branca de você, M. Não só eu, mas boa parte dos que tinham um mínimo de bom senso também. Eu olhava com tanta admiração para a sua desenvoltura profissional, achava tão injusto que você fosse pichado por causa do "QI". Você era muito mais do que o filho de um grande nome da comunicação. Você já tinha o seu nome, você era tido como um dos mais promissores profissionais da nossa geração. E essa competência, herança genética ou não, era sua. Era a sua bagagem.
Charmoso, dono de um texto quase lírico, sempre bem vestido, carregando aquela pasta de couro pra baixo e pra cima. M, a gente ainda tinha muito o que se encontrar na cidade que para mim era a Pasárgada. Por quê? Ainda faltavam uns 22, 23 países para você conhecer, e para que não doesse tanto, mais uns 24 anos pela frente. No mínimo.
Ainda tinha muita poesia para ser derramada nos papéis. Ainda tinha muita sensibilidade para aflorar. Você ainda tinha inúmeros furos jornalísticos pela frente, um ou dois Pulitzer, ou Prêmio Ayrton Senna, ou qualquer que fosse a fita azul. Você ainda tinha tantos dias nascendo, tantas correrias pela Consolação, tantas namoradas a arranjar, um ou dois filhos para gerar. E ver crescer.
Nunca foi estrela. Podia ter sido: sucesso para pessoas muito novas sempre desequilibra. Mas você parecia nascido para aquilo. Estrela é agora. Agora tem um lugarzinho no céu para você continuar brilhando. Pessoinha-estrela, homem-cometa, voltou muito rápido para casa. E dói, viu, M? Saudade dói...
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