terça-feira, março 30, 2004

A Lei Áurea foi promulgada em 1888. Caducou em 1988, e não foi reeditada. Logo, a escravidão ainda existe.

A minha coordenadora está-se aproveitando dessa brecha na legislação para me colocar no tronco...

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Porque metade de mim é o grito, mas a outra metade é o silêncio.

Carlos Drummond de Andrade

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Nunca reaja aos assaltos. Mas o que fazer se o cérebro entra em pane, e a primeira reação que eu tenho é a de agarrar a mão do filho da puta? Pois sim, reagi.

Estava dentro do carro, saindo de uma locação para outra, e o carro da minha coordenadora foi abordado por aqueles guardadores. Um pedia dinheiro, chegou outro pelo meu lado. Dois segundos, e ele tinha enfiado a mão para roubar o celular que estava preso na minha blusa. Deus sabe de onde eu tirei a rapidez suficiente para agarrar a mão dele, mas o fato é que ficamos atracados, o ladrão e eu. Ele só saia dali se 1) largasse o meu celular ou 2) largasse a mão ali E o meu celular.

Lá pelas tantas, ele berra DENTRO da minha cabeça:

— Me larga, porra, eu já soltei o celular!

Ainda fiscalizei antes de deixar o sacana sair caminhando calmamente. Celular ali, joguei para o banco de trás, bati a mão no cinto, soltei e parti para abrir a porta. Deus existe e fez com que a Rê fosse mais sensata que eu, e arrancasse o carro para impedir que eu saísse.

— Então a gente vai voltar.

Ela topou, porque afinal de contas íamos procurar um policial. Nesse meio tempo, eu revirei a mochila atrás do raio do canivete que sempre me acompanha. Sim, Fiel Leitor, eu ia realmente futucar as costelinhas dele com a lâmina maior da minha faquinha paraguaia. Esqueci o canivete em algum lugar, porque na bolsa não está.

Procuramos um policial, devia ser hora do recreio, porque não tinha nenhum fazendo ronda. Passamos devagar pelo local onde estavam os pivetões, paramos o carro, e — olha só, sanidade tem um limite! — chamamos os caras pra brigar. Eu e a Rê. Mais ninguém. Eles saíram de mansinho, eenquanto a gente provocava, ameaçava... Uma cena!

Saldo: a antena do meu celular está solta, e o meu dedo anular direito está machucado, com uma mancha roxa na unha. Essa história de colocar gelo é invenção de algum sádico... E uma tremedeira que apareceu horas depois, quando encerramos a parte hard do trabalho. Delay de reação é o fim da picada.

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Continuo viciada nessa música. Enquanto estou em casa, a ouço. Quando estou na rua, só consigo cantar a maldita "Años", num espanhol aprendido na marra, another time, another place.

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