Há uma semana estou com o traseiro sentado na cadeira fofinha e vermelha, na frente do computador, enfrentando de cabeça erguida — e alguns cochilos, porque o troço ficou chato, viu? — o tal relatório. Uma semana trabalhando dias inteiros com os olhos pregados no monitor, saindo da máquina mais de oito da noite, depois de ter ligado o computador às sete, sete e meia.
Sim, faço intervalos agradabilíssimos, fiz duas me-mo-rá-veis farras esta semana — um Steinhegger Day, uma noite no sertão... Faço paradas para xícaras de chá intermináveis, e conversas ágeis - e que sempre terminam cedo, por mais que durem — com o Caboclo da Temporada, com o amigo-querido-que-escreve-pra-caralho, com o P. Mesmo porque, darling, só me relaciono, em qualquer instância da vida, com gente inteligente.
Onde eu estava? Ah, o trabalho duro. Não devo terminar antes de segunda-feira essa tranqueira. Vejo a terça-feira chegando e eu ainda com esse ebó arriado no meu computadorzinho. Bom.
16:00 do sábado. Hoje. Estava eu com os olhos áridos (alô? Lentes de contato rígidas?), como se estivessem cheios de areia. O que eu disse? Areia? AREIA!
— Lourinha, tira a roupa e põe o biquini que a gente vai pra praia.
É TÃO absurda a idéia da mãe dela na praia, que a Pequena ainda me olhou umas duas vezes para ver se eu estava falando sério. Enquanto ela brigava com a tanguinha da Hello Kitty, eu entrava no maiô, juntava uns trocados no porta-moeda do sapinho, colocava livro, celular, óculos escuros, tudo na bolsa linda do Festival de Verão do ano passado — que veio com o kit de imprensa, levei quase um ano para usar a bolsa de praia. Parecia um furacão pela casa, com medo de algum espírito ruim me fazer desistir. Baldinho, forminhas de areia, pás, fecha a casa, e vamos embora.
Estaria sentada lá até agora, vendo a Lourinha brincando com os castelinhos, lambendo o picolé, tomando lapeada de uma onda mais arisca. Vendo a Lourinha rir com os olhos e com a boca, agarrada em mim porque a bonita aqui esqueceu a bóia de braço. Estaria até agora lá. Nem lembrei que tinha trabalho atrasado pra mais de metro, nem que a minha vida está uma confusão dos diabos. Nada. Só via eu e a Lourinha ali. Nem mais uma alma.
O.o
Minha filha é uma criança pouco gregária. Mais afeita que a mãe à companhia humana — o que não é um referencial para nada, vamos lá, a mãe é quase uma ogra —, o que lhe garante um eventual companheiro de folguedos.
Um gurizinho lindo, pouquinha coisa mais velho que a Lourinha, estava na água de bóias de braço, ele e a babá. Se quedou de amores pela minha Pequena, e tudo o que via, mostrava pra ela. A cada avião que passava, o infante gritava, de onde estivesse:
— Olha o avião! O avião...
E a minha mente doentia nunca deixou de completar, a cada grito:
— ... patrão! O avião!
Nossa, alguém se lembra da Ilha da Fantasia e do Tatou?
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E se tudo der certo, dentro de uma hora e meia (são 09:00PM) estarei no show da Cascadura. E hoje não tem gripe, tem dinheiro na conta, tem filha dormindo feliz.
Amanhã, volto pro trabalho bem sorridente, porque há meses estou me DEVENDO o show da banda que mais ouço. Só não vou pro esquenta porque não tenho mais idade para emendar uma coisa na outra.
Tá, tenho idade e disposição, mas não tenho tempo.
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Estou respondendo ao melhor email que recebi este ano. Sabe como é geminiana, né... Adora um correio cheio de prolixidades saborosas, de descrições acuradas, com longas linhas cheias de histórias pra contar. Adoro email grande.
Óbvio que a resposta vai ficar arquivada aqui, porque nunca me satisfaço com o que redijo. Mas um dia, ah, um dia... depois de um Steinhegger Day, eu aperto o botão de send, e voilà: lá se vai mais um pedaço da minha alma.
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Essa música me dilacerou ontem
Thirteen Senses - ... |
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