sábado, março 29, 2003

Exercício de meditação

"O exercício propõe que você se imagine como uma ave. Se não puder ficar nua, coloque uma roupa com as cores da ave que você vai "incorporar". Imagine-se como a tal ave e alce vôo".

OK, vamos lá. Olhos fechados, um friozinho bom demais, esticada na cama, relaxada. Nua não dava mesmo, senão eu seria um cadáver congelado em meditação eterna.

Todos os preâmbulos da meditação foram feitos. "Imagine-se um pássaro... Ai, meu Deus, que roupa eu estou?"

O short verde com a camisa branca? Não, isso foi ontem. A blusa cinza com o short azul florido? Não... Bingo! A camiseta vermelha com o short preto e branco! Vamos continuar, então!

Imagine-se um pássaro... "Mas um pássaro vermelho?"

"Curió... Periquito... Canário... Arara... ARARA!!! Arara e vermelha! Imagine-se uma arara... Imagine-se uma arara... Mas arara voa?"

Na ignorância desse dado, resolvi pensar em outro.

"Gavião, águia, urubu, uirapuru... UIRAPURU VOA E É VERMELHO (telha, mas é)! Imagine-se um uirapuru, imagine-se um uirapuru, imagine-se um uirapuru..."

Problema 1: Pense repetidas vezes na frase "Imagine-se um uirapuru." Conseguiu? É mais fácil "Três tigelas de trigo para três tigres tristes."

Problema 2: OK, o uirapuru é vermelho e voa. Mas usa short com listras pretas e brancas?

Uma risadinha discreta atrapalhou minha concentração. Ai, meu Deus, lá vou eu começar tudo de novo... "Imagine-se um uirapuru, imagine-se um uirapuru, imagine-se um uirapuru..." Mas e o short? Uirapuru não serve! Outra ave, então!

Uma ave listrada de preto e branco, uma ave listrada de preto e branco...

"ZEBRA!!! Imagine-se uma zebra, imagine-se uma zebra, imagine-se uma... ZEBRA???"

Desisti da meditação ali mesmo, às gargalhadas...

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Qualquer um lê. Reler é para os sábios.

Eu admito a minha insapiência. Não consigo reler algumas coisas. Não, não são os livros. Não consigo reler bilhetes antigos. Não consigo reler alguns trechos do meu diário no caderno. Não consigo reler meus contos de uma determinada época.

Por quê?

Porque são de um amargor que não cabe numa guria novinha. Porque machucam pela melancolia daquela que não consigo imaginar como sendo uma versão Daniela 3.0.

Não consigo reler cartas do Solano. Não consigo reler as minhas respostas. Não consigo reler crônicas de um certo período. Não consigo ler meu diário desse mesmo período. Não consigo reler alguns emails.

Por quê?

Porque são de uma felicidade que não cabe no que conheço de mim mesma. Porque machucam pela alegria daquela que não consigo imaginar como sendo uma versão Daniela Pentium V.

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